Brasilia,
16 de janeiro de 2013, por Beto Almeida,
jornalista
Desde que foi
eleito em 1998, o presidente Hugo Chávez vem estimulando uma série de debates,
seja em razão das amplas transformações sociais que promove na Venezuela, seja
em razão do medo pânico que causa nos governos imperiais e nas oligarquias de
cada país, vassalas e zeladoras dos interesses deste imperialismo em cada país.
Certamente, sobre cada um destes aspectos é possível retirar profundas
lições.
No caso
brasileiro, a mídia do capital que jamais se preocupou em oferecer um mínimo de
informação objetiva sobre as mudanças em curso na Venezuela, agora, em razão do
infortúnio da enfermidade de Chávez, esta mídia supera-se. Promove
uma comunicação necrológica, havendo inclusive comentarista de
veículos das Organizações Globo, que chega mesmo ao grotesco de
torcer pela desaparição do mandatário
venezuelano.
Sobre isto devemos
tirar lições, seja aquelas amargas , a partir do comportamento medieval da mídia
empresarial sobre a trágica enfermidade de Chávez, enfermidade
que, óbvio, pode alcançar a qualquer um de nós, mas também sobre o
que este mandatário já realizou mudando a face de seu país e ajudando a mudar a
face da América Latina. Por um lado, fica claro que para aqueles comentaristas
globais, a ideologia está por cima de qualquer conceito básico de humanidade ou
solidariedade, que sustentariam desejos de restabelecimento e de superação deste
azar pessoal. Mas, o que se observa é ainda mais grave: para além
do desejo pessoal da morte alheia, as concessões de serviço
público de radiodifusão estão a ser utilizadas para a propagação destes
desejos mórbidos em grande escala de difusão,
violando a Constituição Brasileira, que, em seu
artigo 221, estabelece como princípio a ser observado, “o respeito
aos valores éticos e sociais, da pessoa e da família”, sem qualquer manifestação
da autoridade responsável. É como se fosse autorizado aos concessionários de
serviços públicos de abastecimento de água, distribuir água contaminada e suja à
sociedade.
Para que serve a
mídia?
Será que isto
estaria se tornando uma tendência? Há alguns meses, quando
cientistas iranianos foram assassinados em atentados
que , segundo o noticiário da época, teriam sido organizados por
comandos israelenses - os mesmos que assumem agora
terem participado na eliminação de Yasser Arafat -
num programa televisivo, Manhattan Conexion , também
veiculado por empresa das Organizações Globo, comentaristas
chegaram a defender que aqueles cientistas iranianos mereciam mesmo ser
assassinados. Apologia do homicídio!
Tanto num caso,
como em outro, Venezuela e Iran, são países com os quais o Brasil
possui relações de amizade e cooperação, aliás crescentes, em
benefício mútuo notório. Qual seria a reação do Itamaraty, do Governo Federal,
caso emissoras de tv da Venezuela ou do Irã passassem a hostilizar
autoridades brasileiras, e, chegassem a torcer pela reincidência do câncer em
Dilma ou em Lula, e para que eles não resistissem? Ou se estas emissoras
defendessem a morte de cientistas brasileiros, pois, como sabemos, o Brasil
também possui - de modo soberano -
seu próprio programa nuclear, como EUA, Rússia, China, Israel e
Irã?
Pra que servem os
meios de comunicação social, afinal de contas? Para hostilizar e
desejar o pior, de modo incivilizado, embrutecido, desumano e
antidemocrático, a personalidades de outros países,
com o que se desrespeitam povos com os quais temos relações de cooperação e
amizade? Será mesmo admissível que concessões de serviço público sejam
utilizadas para insuflar, propagandear e celebrar o desejo de morte de seres
humanos, simplesmente por não comungar de suas ideias? Esta
prática não seria equiparável àquelas que Goebels denominava de “razões
propagandísticas”, e que precederam os ataques nazistas a outros
povos?
Estranho
“ditador”
As notas que a
mídia brasileira divulgam sobre Hugo Chávez atentam contra a
prática basilar do jornalismo. Críticas e discordâncias são absolutamente
normais e devem ser praticadas. Mas, desinformação, distorção e inverdades
grotescas são atributos rigorosamente alheios ao
jornalismo.
Um dos aspectos
mais utilizados nesta cruzada midiática de anos é a tentativa de rotular Hugo
Chávez como ditador. Estranho “ditador” este que chegou ao poder
pelas urnas e, em 14 anos, promoveu 16 eleições, referendos e
plebiscitos, dos quais venceu 15 pelo voto popular e respeitou,
democraticamente, o resultado do único pleito em que não foi vencedor.
Estranhíssimo “ditador” esse Chávez que introduziu na Constituição
Bolivariana - ela também referendada
pelo voto popular - o mecanismo da revogabilidade de
mandatos, utilizado pela oposição que, no entanto, não
conseguiu a vitória nas urnas.
Auditoria
eleitoral
Na Venezuela, para
dar ainda mais segurança às eleições, estas não são julgadas pela mesma
autoridade que as organiza. Além disso, as urnas possuem mecanismo
de impressão do voto, possibilitando ao eleitor conferir se o voto
que teclou foi realmente o voto registrado pelo computador. De posse deste voto
impresso, o eleitor, no mesmo momento da votação, o deposita em urna anexo. Isto
possibilita que haja plena auditoria do voto, o que não ocorre no Brasil, onde,
conforme já demonstraram especialistas da UnB, as urnas eletrônicas são
vulneráveis a interferência externa sobre seus programas, além do que, na existe
a possibilidade do voto material em papel para eventual necessidade de
recontagem.
Estranho
“ditador” este Chávez, que ampliou a segurança eleitoral dos cidadãos, lembrando
que lá na Venezuela o voto não é obrigatório, tendo sido registrada, na eleição
de outubro de 2012, uma participação superior a 86 por cento do colégio
eleitoral. O revelador aqui é que as Organizações Globo, tão empenhada em
rejeitar e criticar a democracia venezuelana, é aquela que apoiou
o a supressão do voto popular no Golpe de 1964, apoiou a Proconsult contra a
eleição de Brizola em 1982 e foi contra a Campanha Diretas-Já, em 1984, uma das
mais belas páginas da consciência democrática do povo Brasil. E, ainda hoje, a
Globo insiste em difamar e combater a instituição do voto impresso na urna
eletrônica brasileira, cuja vulnerabilidade tem lhe causado a
rejeição por mais de 40 países, exceção para o Paraguai, a quem o TSE regalou
tais equipamentos......
Povo
ignorante?
Esses
comentaristas da Globo tentam passar a imagem de que a Venezuela é
um país de atraso cultural, para o que se valem , novamente, do expediente
corriqueiro da desinformação massificada, repetida sistematicamente. Vamos aos
fatos: enquanto a Venezuela já foi declarada oficialmente, pela UNESCO, como
“Território Livre do Analfabetismo”, o Brasil ainda não tem sequer uma meta
segura para erradicar esta mazela social, apesar de terem nascido aqui os
geniais Anísio Teixeira, Darcy Ribeiro e Paulo Freire. Lá, para a
erradicação do analfabetismo, além da utilização de um método super-
revolucionário elaborado em Cuba, o “Yo Si Puedo”, houve uma
tremenda mobilização do governo, das massas, das instituições, mas
também dos meios de comunicação públicos, que, existem, informam e
possuem uma programação cultural educativa elevada ao contrário daqueles
sintonizados com os ditames prepotentes do Consenso de
Washington.
Aliás, vale lembrar que foi exatamente por meio deste
método que o Deputado Tiririca foi alfabetizado em prazos relâmpagos e foi capaz
superar as ameaças elitistas da autoridade eleitoral que queria lhe cassar o
mandato. Tiririca aprendeu a ler e escrever em poucas semanas. Com
também foram alfabetizados campesinos, índios, povo pobre na Venezuela, na
Bolívia e no Equador. Em breve será a Nicarágua a ser declarada também,
oficialmente, pela Unesco, Território Livre do
Analfabetismo.
Como contraponto,
vale lembrar que o programa Telecurso Segundo Grau, produzido pela Fundação
Roberto Marinho, é exibido em horário da madrugada pelas emissoras que empregam
esses comentaristas, apesar dos volumosos recursos públicos
despendidos para a sua produção e veiculação. A escolha do horário
é apenas demonstração da baixa preocupação e vontade dos concessionários de
serviços públicos de radiodifusão em contribuir para a elevação do
nível educacional e cultural do nosso povo. Contrariando a
Constituição.
O que é
notícia?
Aqueles
comentaristas são incapazes de informar sobre tudo isto, bem como sobre o papel
dirigente de Hugo Chávez ao formar com estes países e outros a ALBA
- Aliança Bolivariana para o Progresso, numa
iniciativa em que colocou o petróleo com instrumento da elevação das condições
de vida não apenas dos venezuelanos, mas também do progresso social conjunto
destes povos. A isso chamam de ingerência, trocando solidariedade por
intromissão. Graças aos recursos do petróleo, milhares de latino-americanos,
estão recuperando a plena visão, por meio de cirurgias gratuitas realizadas pela
Operación Milagro, um esforço comum entre Cuba e Venezuela. Esta
operação humanitária, jamais divulgada adequada pelas Organizações Globo, nasce
quando a OPAS alertou para a possibilidade de que pelo menos 500 mil
latino-americanos perdessem a visão à curto prazo, vítimas de catarata, uma
tragédia perfeitamente evitável. As cirurgias são feitas tanto em Cuba, como na
Venezuela, e agora também na Bolívia, no Equador, seja por médicos cubanos, ou
locais. Isto não se informa, mas um dia destes , fiquei tomei conhecimento, pelo
Jornal Nacional, da edificante informação de que a esposa do Príncipe Willians,
a tal duquesa de Cambridge, está sofrendo muito
enjoo na sua gravidez. Cuba e Venezuela decidiram operar 6 milhóes
de latino-americanos, gratuitamente, em 10 anos. O que é
notícia?
Índios lêem “Cem
anos de solidão”
Aí temos outra
lição de Chávez: depois de erradicar o analfabetismo, Chávez criou a
Universidade Bolivariana, pública e gratuita, a Universidade das Forças
Armadas, e um programa para elevar a taxa de leitura do povo
venezuelano. Por meio deste programa foram editados, dando apenas
alguns exemplos, a obra “Dom Quixote”, com uma
tiragem de 1 milhão de exemplares que foram distribuídos gratuitamente nas
praças públicas, e também a obra “Contos”, da Machado de Assis, pelo mesmo
programa, com uma tiragem de 300 mil exemplares, tiragem que o genial escritor
do Cosme Velho jamais mereceu aqui no Brasil, onde não apenas o
analfabetismo persiste , mas a tiragem padrão de nossa indústria editorial
arrasta-se na melancólica marca de 3 mil exemplares. Além disso, algumas tribos
indígenas da Amazônia venezuelana, que, até Chávez, ainda
desconheciam a escrita, já tiveram seu idioma
sistematizado, e, como primeira obra publicada no novo sistema de escritura,
tiveram o belíssimo “Cem Anos de Solidão”, de Gabriel Garcia Marquez.
No entanto, apesar de tudo isto, para estes comentaristas da
Globo, que agridem Chávez no leito de um hospital, na Venezuela há
um “povo ignorante”, dirigido por um “ditador”.... Como explicar, então,
a realização destas mudanças marcantes? Vale contar um caso: o
senador Cristovam Buarque, ex-Ministro da Educação de Lula, foi à
Venezuela para a solenidade de Declaração de Território Livre do Analfabetismo.
Escreveu num papelucho um endereço e saiu pelas ruas perguntando ao acaso aos
transeuntes, que lhe orientassem como chegar ao destino marcado. “Falei com
pessoas indistintamente, camelôs, donas-de-casa, jovens ou não, ninguém me disse
que não sabia ler e davam a informação”, contou. São as lições de Chávez que a
Globo não possui aptidão para aprender....
Petróleo a preço
de água
Antes de Chávez,
quando 80 por cento dos venezuelanos viviam na miséria absoluta, o petróleo era
regalado aos EUA, enquanto a burguesia local era conhecida por ser a maior
consumidora de champanhe do mundo, depois da francesa, e pela elevadíssima
importação de caviar para pequenos círculos oligarcas. Eleito, Chávez cumpriu
promessa de campanha de acabar com a farra imperialista com o petróleo
venezuelano regalado. Recuperou gradativamente o controle sobre a
PDVSA e também fez uma cruzada internacional para acordar a OPEP de seu sonho
colonizado. Na época, o preço do petróleo estava em 7 dólares o barril
- ou seja, muito mais barato que água mineral ou
Coca-Cola - e hoje, avança pela casa
dos 100 dólares. Eis a razão do ódio dos EUA a
Chávez.
Evita Perón
e Vargas
Este ódio imperial
se expressa como uma ordem, uma sentença de morte, dada pelos falcões
norte-americanos para que seja alcançada, por meio do câncer,
aquela meta mórbida contra qualquer mandatário que não seja talhado para
vassalagem, para submissão. Não é a primeira vez na história que
isto ocorre. Quando Evita Perón foi acometida por um câncer, este
jornalismo mortífero se expressou sem qualquer escrúpulo. O ódio que os círculos
imperiais nutriram por Evita fez com que ele saltasse das páginas da imprensa
portenha para os muros de Buenos Aires, nos quais a oligarquia festejava sua
podridão moral escrevendo “Viva el Câncer!”. Os imperialistas jamais perdoaram
Evita por ter armado os trabalhadores da CGT para resistir aos golpes que
frequentemente se organizavam contra Perón. Chegou mesmo a advertir Perón, que
lhe criticou pela distribuição de armas, da qual ela nunca se arrependeu, que
ele estava preparando as condições - desmobilizando
os trabalhadores - para não ter capacidade de
resistir ao golpe, que chegou em 1955, 3 anos depois da morte de Evita. Ela bem
que avisou.
Depois foi contra
Getúlio Vargas, quando sua saída da vida para entrar na história foi comemorada
em círculos manipulados pelo capital externo, que não suportavam a criação da
estatal Petrobrás, dos direitos laborais inscritos na CLT e da lei da remessa de
lucros ao exterior. Não por acaso, o povo expressou sua tristeza e sua fúria,
pranteando Vargas, mas também empastelando os símbolos daquele
ódio contra o popular presidente, entre os quais os jornais
Tribuna da Imprensa, Globo, e, até mesmo do jornal do PCB, Tribuna Popular, que
no dia do suicídio de Vargas trazia desorientada entrevista de Prestes pedindo
sua renúncia. Assustados e envergonhados, os dirigentes comunistas recolhiam os
exemplares do jornal que ainda estavam nas bancas. Mas, não tiraram conclusões
históricas do porquê também foram alvo da fúria popular contra seus inimigos,
sobretudo porque Vargas havia convidado Prestes para ser o chefe militar da
Revolução de 30, aquela que em apenas 24 horas alistou mais de 20 mil
voluntários para pegar em armas e combater a
República Velha. Prestes inicialmente aceitou o convite, mas a ordem stalinista
foi para que se afastasse de Vargas, enquanto que, na mesma época, em sentido
contrário, Leon Trotsky escrevera que tanto Vargas como o mexicano
Cárdenas, eram expressão de um bonapartismo sui generis, com potencial
revolucionário, e que deveriam receber o apoio tático dos
revolucionários.
O Levante de 4 de
Fevereiro de 1992
Processos
revolucionários começam sob formas mais inesperadas, normalmente com rupturas da
legalidade instituída quando esta acoberta iniquidades, sob a forma de
insurreições, armadas ou não. A partir das revoluções outra legalidade é
constituída. Assim foi a Revolução de 30. Assim havia sido a Revolução Francesa,
Assim foi a revolução em Cuba, na Nicarágua ou na Argélia. A
Revolução Iraniana, por exemplo, desde 1979, de quatro em quatro anos promove
eleições diretas, o que ainda não foi conquistado pelo povo dos EUA, onde o voto
é indireto e apenas os candidatos que podem pagar aparecem na mídia para
defenderem suas ideias. A Revolução Bolivariana começa com um levante
insurreicional - o 4 de fevereiro de 1992 -
destinado a convocar uma Assembleia Nacional Constituinte,
cujo objetivo era retirar a Venezuela da condição de colônia petroleira.
Evidentemente, os comentaristas que seguem orientação imperial não
suportam qualquer forma de rebeldia contra hegemonias colonizadoras. Na prisão,
Chávez se transforma no homem mais popular da Venezuela, aquele
capaz de traduzir e promover a identidade de seu povo com a sua história, com
Bolívar, com a sua identidade cultural, sua mestiçagem negra e
índia, como são os venezuelanos.
A Revolução
Bolivariana começa com um levante armado e transforma-se em processo
institucional por meio da aprovação do voto popular. Mas, diante das constantes
ameaças golpistas imperiais e também das provocações desestabilizadoras da
oligarquia, Chávez mesmo declarou que “esta é uma revolução pacífica, pero
armada” , como a expressar a consciência do golpismo que sempre esmagou
processos democráticos de transformação social na América Latina. Não lhe sai da
lembrança que Allende morreu de metralhadora na mão...
Jornalismo de
desintegração
As lições de
Chávez estão aí aos olhos do mundo, mesmo que esta mídia golpista,
praticando o mais vulgar jornalismo de desintegração, queira ocultar. A parceria
Brasil-Venezuela multiplicou em mais de 500 por cento o comércio bilateral em
poucos anos e hoje estão atuando na pátria de Ali Primera a Embrapa, a Caixa
Econômica e muitas empresas brasileiras. Realizam obras de infra-estrutura
indispensáveis para que o país dê um salto em seu desenvolvimento, o que sempre
foi sabotado pelas oligarquias do período pré-Chávez. Agora
Venezuela constrói ferrovias, metrôs, teleféricos, estradas,
hidrelétricas, pontes, e a participação brasileira nisto, com financiamento
estatal, via BNDES, traduz bem o pensamento de Lula de que integração significa
“todos os países crescendo juntos”. Os comentaristas da Globo não informam nada
disso, até porque apoiaram quando o Brasil, na era da privataria neoliberal,
demoliu um terço de suas ferrovias, além de ter destruído sua indústria naval,
que agora, recuperada, tem inclusive 27 encomendas para a
construção de navios petroleiros da PDVSA, a serem feitos
aqui.
Solidão do
Uniforme
Além da
integração, Chávez recuperou para o centro do debate o conceito de socialismo,
além de propor a organização de uma nova Internacional, indignando-se com a
cruzada da morte que o imperialismo organizou contra o Iraque, a Líbia e também
contra Síria. Muito longe de resolver o desemprego galopante que assola a
França, o governo de Hollande lança-se em mais uma empreitada imperial contra.
Só sabem guerrar. Chávez recupera o debate sobre uma nova função social para os
militares, retirando-os da solidão do uniforme, unindo-os ao povo
e às causas mais preciosas para viver com dignidade, com soberania e como
democracia e justiça social. Recuperou até mesmo a função histórica do General
José Ignácio de Abreu e Lima, pernambucano que lutou ao lado de Bolívar e que
foi o primeiro a escrever sobre O Socialismo na América Latina, o que, em boa
medida era desconhecido até mesmo pelas esquerdas brasileiras. Hoje os militares
venezuelanos cumprem função libertadora e resgatam a função das correntes
militares progressistas e antiimperialistas na história e seus representantes
como Velasco Alvarado, Torres, Torrijos, Perón, Prestes, Nasser, Tito, a
Revolução dos Cravos.....São lições de Chávez.
Os comunicadores
que ignoram os fatos objetivos alardeiam a existência de desabastecimento
alimentar quando a Unicef comprova que a Venezuela teve reduzida
drasticamente a desnutrição e sua mortalidade infantil. O que há é
boicote da indústria alimentar, o que levou o governo a montar uma rede estatal
de mercados, fixos e móveis, que chegam a vender alimentos ao povo a preços até
70 por cento mais baratos, já que supera a especulação dos oligopólios. Na
semana que passou, para as autoridades venezuelanas confiscaram 3 mil toneladas
de alimentos que estavam escondidos pelos oligopólios, numa operação casada com
a mídia para fazer a campanha de que “falta alimento”, operação da qual
participam, vergonhosamente, os comentaristas globais e sua grotesca
desinformação. Segundo estatísticas da FAO, o consumo de alimentos na Venezuela
aumentou em 96 por cento no período de 2001 a 2011, Era Chávez,
enquanto a Cepal atesta que este país é hoje o menos desigual da América
Latina, além de pagar o maior salário mínimo do continente, o equivalente
a 2440 reais, informação que a Globo jamais noticiará.
MST, sem
veneno
Antes de Chávez, a
Venezuela não possuía economia agrícola, ou melhor, tinha apenas uma
“agricultura de portos”, todo alimento era importado, até alface
vinha de avião de Miami. Hoje o país, graças à integração e à
cooperação promovidas incansavelmente por Chávez, já tem uma pecuária leiteira,
já produz metade do arroz que consome e recebeu até a solidariedade do MST que
lhe doou toneladas de sementes criollas de soja não transgênica. Aliás, Chávez
organizou convênio com o MST, o então governador Roberto Requião e a
Universidade Federal do Paraná para montar escolas de agroecologia aqui no
Brasil, abertas à participação de estudantes de toda a América
Latina.
Jornais populares
e diversidade
Essas são algumas
das generosas lições de Chávez, atacado pela Globo daqui, como
pela de lá, exatamente porque existe plena liberdade de imprensa na Venezuela.
Ou, como disse Lula, “o problema da Venezuela é excesso de democracia”. Vale
contar episódio de jornalista brasileira que antes de viajar para lá me
perguntou como poderia ter acesso a imprensa não controlada pelo governo,
segundo frisou. Eu lhe disse, vá às bancas de jornal. Ela desconfiou, mas foi. E
me contou; “pedi ao jornaleiro imprensa de oposição ao Chávez. Ele apontou para
toda a sua banca e disse-me. minha filha, isso aí tudo é contra o governo, que
poderia escolher á vontade”, relatou-me surpreendida. A diferença é que essas
grosseiras distorções e manipulações que se lançam aqui contra Chávez, lá têm
respostas pois foi constituído um sistema público de comunicação, inclusive com
jornais populares distribuídos gratuitamente ao povo nos metrôs e rodoviárias, o
que ainda não temos aqui. O povo brasileiro eleva seu padrão de consumo, mas não
tem um jornal com o qual possa dialogar e refletir sobre as
mudanças sociais em curso aqui. Continua “dialogando” com as xuxas da
vida....
Caminhando e
cantando e seguindo a lição....
Diante de tantas
lições civilizatórias, democráticas, transformadoras e marcadas pelo humanismo
que está sendo aplicado pelo governo bolivariano da Venezuela, a conclusão de um
comentarista global de que Chávez iria tomar o poder no além, é apenas
e tão somente confissão de um desejo golpista macabro e atestado da
estatura moral desta mídia teleguiada de Washington. O que desejamos é que
Chávez possa se recuperar, concluir a sua obra, na qual está a meta de construir
e entregar 380 mil novas moradias em 2013, equipadas com móveis e
eletrodomésticos, em terrenos localizados também em bairros nobres, e não numa
periferia longínqua ou à beira de precipícios que desmoronam com as chuvas.
Quanto a nós, que
aprendamos algumas destas lições, especialmente quanto à necessidade de
fortalecer, expandir e qualificar um sistema público de comunicação, para que
tenhamos acesso ao que está em nossa Constituição, a pluralidade e a diversidade
informativas, e um jornalismo como construção de cidadania e de
humanidade.
Nenhum comentário:
Postar um comentário