terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

As ficções políticas e as realidades do mundo
Mauro Santayana

Faz parte da história política de São Paulo a aparente indecisão de muitos de seus líderes. O Sr. Jânio Quadros, que tinha  dias de Hamlet e  dias de MacBeth, subordinava suas decisões a dois pontos geográficos da cidade: Vila Maria e Sapopemba. Vila Maria é a região de classe média emergente, e, Sapopemba, área mais pobre. Ele costumava consultar os dois eleitorados. De Vila Maria vinha a esperança da vitória, uma vez que, desde sua eleição para vereador, contara com o apoio de seus eleitores. Sapopemba era o teste de popularidade. Antes de candidatar-se a esse ou àquele cargo, aferia, nos comícios, o apoio de seus moradores.
O ex-governador José Serra não chega à forte tragédia do escocês MacBeth, mas se aproxima, em seu ser e não ser, do príncipe da Dinamarca. Não que Hamlet disputasse uma eleição, a não ser a do destino, e que a sua dúvida fosse muito além de sua própria tragédia, ainda que nela amarrada. Mas se Jânio e Serra estão muito distantes da essência do caráter que Shakespeare dá aos dois personagens, e que ele pintara como antípodas morais, os dois paulistas começam a se assemelhar. Jânio adorava que fossem bater à sua porta, apelar para a sua taumaturgia populista. Serra, ao desconfiar de que não o procurariam, como a bóia salva-vidas na tempestade (mesmo porque os ventos políticos sopram brandos, por enquanto), resolveu aceitar, de bom grado, os ralos apelos que lhe chegam.
Os paulistas começam a dar à eleição para a Prefeitura de São Paulo importância maior do que ela realmente tem, e os comentaristas políticos, próximos dos tucanos bandeirantes, avançam sobre a lógica, dizendo que ela terá efeitos nacionais. Não há dúvida de que a cidade é a mais importante do país, no que se refere à economia e à cultura, de maneira geral, mas está distante da realidade política e social do Brasil como um todo. Os paulistanos atuam como se fossem o sol, em torno do qual os planetas menores orbitam, e, de cuja luz, dependem.
Na noite de sábado para domingo, em uma cidade satélite (das mais pobres) de Brasília, Santa Maria, alguns rapazes atearam fogo a moradores de rua. Um deles morreu e o outro se encontra seriamente ferido, com poucas possibilidades de sobrevivência. Há dois fatos, relacionados com essa tragédia, que devem ser ponderados. Até há algum tempo, os pobres costumavam ser solidários entre eles.     Agora, no entanto, submetem-se à cultura, made in USA, da intolerância, da violência pela violência, da discriminação e do desprezo pela vida. Talvez – e as investigações continuavam – os incendiários de fim de semana sejam dos “emergentes” das cidades-satélites, filhos de pais bem empregados, moradores em casas confortáveis. E, talvez, não – o que será pior.
O outro ponto de reflexão é o da impunidade. Há quase quinze anos, cinco rapazes, filhos de famílias da elite de Brasília, atearam fogo ao índio Galdino, dirigente da etnia pataxó da Bahia, que dormia em um ponto de ônibus. Presos, graças ao testemunho de um rapaz da mesma idade, que passava de carro pelo local, os culpados foram defendidos com veemência. Seus pais, e os advogados que contrataram, tentaram desqualificar o crime – tratara-se, segundo a desculpa, de uma brincadeira que dera errado. Não tinham a intenção de matar, só a de assustar com o fogo. Foram presos e julgados. Condenados, em 2001,  a 14 anos de prisão, menos um deles, que era adolescente, não passaram mais de 4 anos na prisão – onde gozaram de todas as regalias, entre elas a de sair para estudar e trabalhar, quando aproveitavam o tempo para beber e namorar, chegando frequentemente muito depois da hora de recolher.
As denúncias de que estavam sendo privilegiados de nada adiantaram. Eles eram enteados e filhos de juízes. Como sabemos, todos somos iguais diante da lei, embora alguns sejam muito mais iguais.
É nesse país, em que as leis são meras declarações de intenção, e apenas 3% dos responsáveis pelos crimes de homicídio são julgados e cumprem penas, que temos de pensar. Não entendem os legisladores e administradores públicos que a impunidade dos poderosos estimula a criminalidade geral. Assim, enganam-se os tucanos da maior cidade brasileira. São Paulo, com toda sua opulência (mesmo com a maior população de moradores de rua de todo o país) não é a estrela em torno da qual circula o sistema planetário nacional. Mesmo porque as elites de São Paulo, salvo poucas exceções, exercem uma cidadania off-shore, desligada do destino do país.
O nosso futuro está sendo construído em todo o território nacional, pela inteligência, pelo esforço e pelo patriotismo de seus trabalhadores, incluídos os de São Paulo – e não pelos senhores da Febraban e das corporações multinacionais,  empenhadas em novo e cômodo colonialismo.

domingo, 12 de fevereiro de 2012

Dilma responde sobre as canalhices do aborto

à canalhice do aborto

Publicado em 12/02/2012| Imprima | Vote (+9)
" Não fui mulher de Antônio"


Dessa vez, quem liga é Eugênia Câmara, paixão de Castro Alves.

“Ansioso blogueiro, não consigo ficar calada.

Imagine o que a Dilma sofreu na campanha quando disseram que ela era a favor de matar criancinha, que tinha feito aborto a torto e a direito.

Imagine o que uma avó e mãe não teve que suportar em silêncio.

Quem foi que disse que isso era uma canalhice ?

Foi o Ciro, não é mesmo ?

Agora, depois de um ano de sofrer calada, Dilma deu a resposta.

E nomeou a Eleonora Menicucci Ministra das Mulheres.

Ela defende a discussão do aborto, como uma questão de saúde pública.

Uma mulher que foi torturada e tem a coragem de discordar  dos ministros do STF que acobertaram a tortura

Se o Brasil fosse uma democracia verdadeira, teria orgulho dessa muher !

Sofrer o que ela sofreu, não mudar de lado, estudar e chegar a Ministra.

E a Dilma ?

Claro que ela sabe tudo o que a Eleonora pensa.

E botou ela no Ministério – por causa das ideias dela.

Não haveria de ser com as ideias da mulher do Serra.

A Dilma vai pagar caro por isso, na eleição.

Essa mesma imprensa calhorda do Brasil – os Estados Unidos são assim ? – vai voltar a dizer que a Dilma é a favor de matar criancinha.

Essa mesma imprensa calhorda vai perseguir o Haddad por causa do kit gay.

Por que a Folha não pergunta à mulher do Serra – que nunca fez aborto, no Brasil – o que achou da nomeação da Ministra.

Essa é uma prova de que a Dilma continua na ‘Torre das Donzelas’.

Nomear a Eleonora foi um tapa sem luva de pelica.

Ansioso blogueiro: para deixar claro. Eu não fui mulher do Antônio. Foi amante.”

Deputada critica edição de fala pela Globo

Deputada acusa Globo de editar fala e diz que classe média é hipócrita
Hoje às 17h35 – Atualizada hoje às 18h45

‘Será orgulho ser cassada por bandidos’, diz deputada flagrada em escutas

por Igor Mello, no Jornal do Brasil

A deputada estadual Janira Rocha (Psol-RJ) foi parar no olho do furacão após ser flagrada por escutas dando conselhos ao cabo do Corpo de Bombeiros Benevenuto Daciolo, um dos líderes do movimento grevista dos policiais e bombeiros. Apontada como culpada por outros parlamentares e parte da população, ela corre risco até mesmo de ter seu mandato cassado.

Contudo, a parlamentar, que manteve publicamente sua posição antes mesmo de ter o nome revelado, não se arrepende da maneira como agiu. Ela afirma que faria tudo novamente, e que não vai mudar sua atuação por conta da ameaça de perder seu mandato:

“Esse processo de julgamento é, antes de mais nada, uma ação política. Se a população do Rio ficar majoritariamente a favor da causa dos policiais e bombeiros, vai ser difícil ficar contra a vontade popular e me cassar”, diz Janira. “O resultado tem a ver com com a correlação de forças que for estabelecida na sociedade. Mas não vou mover minha ação política pelo medo de ser cassada. Se isso acontecer, vou ter orgulho de ser cassada por uma corja de bandidos ao defender os trabalhadores. No meu modo de ver, essa gente é guiada por interesses escusos dentro do Estado”.

A parlamentar afirma, no entanto, que não estava insuflando os grevistas a cometerem qualquer ato ilícito, e critica a “edição da gravação feita pela TV Globo”.

“Meu trabalho é político, discuto politicamente com o comando do movimento sobre as melhores táticas a serem adotadas. Na mesma gravação, eu deixo bem claro que considero abominável qualquer ato de vandalismo ou uso de armas, mas esse trecho foi cortado pela Globo”.

Segundo Janira Rocha, que acompanhou os 11 líderes do movimento grevista presos na manhã desta sexta-feira, o governo está colocando em risco a integridade dos grevistas presos:

“Olha só o tipo de coisa que esse governador está fazendo! Ele pega policiais e os coloca no mesmo presídio em que diversos bandidos que eles prenderam durante anos cumprem pena. É uma tortura indireta. A chance de uma tragédia acontecer é imensa”, alerta.

Questão deve ser levada até Brasília

Janira afirma que o próximo passo na defesa dos policiais e bombeiros vai ser buscar revogar a prisão na Justiça. No entanto, a deputada acredita que será preciso buscar os tribunais superiores em Brasília.

“Temos uma reunião com a Comissão de Direitos Humanos da Alerj, familiares dos presos e a Defensoria Pública para buscar caminhos jurídicos para este impasse. Estamos achando que, como existe um verdadeiro estado de excessão no Rio, está tudo montado para transformar a greve em um grande crime. Vamos tentar os tribunais superiores, onde temos maior chance de sucesso. E, na verdade, o que está acontecendo aqui tem que ser discutido nacionalmente”.

Janira elogiou a postura do deputado Wagner Montes (PSD-RJ), que também é apresentador da TV Record. Segundo ela, Wagner conseguiu mostrar a realidade da situação:

“Gostei muito do programa do deputado do Wagner Montes de hoje (sexta-feira). De um lado, a Globo está dizendo que está tudo bem. Mas não adianta a mentira. Ele entrevistou o relações públicas da Polícia Militar, coronel Frederico Caldas, que dizia que não houve adesão e minimizava o movimento. Ao mesmo tempo, mostrava imagens da mobilização na Cinelândia, da carreata pelas ruas da cidade e dos quarteis lotados”.

“A sociedade precisa confrontar a polícia no campo ideológico”

A parlamentar acredita que essa é a oportunidade ideal para que a sociedade discuta os rumos que as polícias devem tomar daqui para frente:

“Se a sociedade, principalmente nossa classe média hipócrita, quer viver com segurança, precisa assumir sua responsabilidade e confrontar a polícia ideologicamente. Precisamos de instituições modernas e democráticas. O estado está introjetado nas pessoas, essa concepção de estado punidor, que controla socialmente, o estado do vigiar e punir, está lá. Isso não se reflete só pela ordem dos oficiais, isso está dentro dos próprios praças. Isso só se muda discutindo, temos que enfrentar a polícia ideologicamente, se quer uma polícia democrática e cidadã. Largar de vez o ranço da ditadura. É como se existisse uma formação que diz assim: desconfie do pobre. Se ele está vestido com aquele boné, camiseta surrada, ele já é bandido. É só achar uma prova material. É essa a polícia cheia de preconceito que queremos?”, questiona.